sábado, 26 de fevereiro de 2011

No escurinho do cinema: Burlesque

UMA COLCHA DE RETALHOS EM FORMA DE UM DIVERTIDO MUSICAL

por Michele Figueiredo



Uma garota do interior, pobre, que trabalha de garçonete, sem muitas perspectivas. Mas que tem um sonho de ser cantora, ou atriz, ou dançarina, e que decide ir para a cidade grande. Lá, mesmo sem conhecer ninguém e começando do zero, ela encontra um club dos sonhos e é onde tem a chance de se tornar uma estrela. Bem, você certamente já conhece essa história. Com outras variáveis, apenas, talvez. Mas, em algum filme em que você já tenha visto uma história parecida, deve ter acontecido alguma coisa que o distinguiu dos demais. No caso de Burlesque, no entanto, isso não acontece.

Não há nada de errado com os clichês, aliás, não sei por que quando se quer falar mal de um filme dizem que ele “é clichê”. Hoje em dia, principalmente, coisa mais difícil é assistir a um filme ou ler um livro e não ter absolutamente NADA que te remeta a alguma obra já apreciada antes. Pelo contrário, e ter referências de onde se possa obter inspiração para criar algo novo é saudável e sim, criativo, enriquecedor. Mas no caso de Burlesque TUDO te remete a alguma coisa já antes vista em algum outro lugar; não há originalidade alguma que distinga a produção.

Quem já pôde conferir algum dos musicais recentemente feitos, como Moulin Rouge ou Chicago, ou filmes como ShowBar (cuja temática é praticamente a mesma utilizada em Burlesque, mudando apenas um ou outro detalhe), claramente percebe que Burlesque foi juntando uma coisa de um e de outro e o resultado foi essa grande colcha de retalhos e nada de novo na já desgastada narrativa.


Apesar de ser grande admiradora da Christina Aguilera, louvar-lhe o enorme talento e belíssima voz – inclusive na sala onde assisti ao filme chegaram a bater palmas em um dos números do filme – devo admitir que sua atuação foi fraca e decepcionante. É preciso ter muito mais que isso para atuar num musical. Não é erro algum uma cantora querer iniciar no cinema, experimentar coisas novas, mas ela deveria começar como a maioria: do começo, fazendo uma pequena ponta num filme e em outro, e não querendo estrelar um musical.

Assim como ela, o resto do elenco também não conseguiu segurar as pontas. Cher e Stanley Tucci, nomes de peso, parecem deslocados, apesar dos números musicais da Cher serem muito bons, inclusive um deles, You Haven’t Seen The Last of Me, foi o ganhador do Globo de Ouro de Melhor Canção Original; já Tucci faz quase um repeteco de seu papel em O Diabo Veste Prada, que é divertidíssimo.

Justiça seja feita, os números musicais do filme – em especial “Express” e “Show me How you Burlesque” - foram muito bem produzidos, as coreografias estão ótimas, figurino incrível, a Christina arrasando no vozeirão como sempre, o roteiro é até certo ponto engraçado e a presença de colírios para a mulherada, como a do ator Cam Gigandet (Crepúsculo) e Eric Dane (Grey’s Anatomy) é mais do que considerável. Burlesque apenas diverte e não passa disso. O que não quer dizer que não deva ser visto, afinal antes de o Cinema ser considerado arte, era puramente entretenimento. As pessoas iam ao cinema em busca de se divertir, rir, esquecer dos problemas por alguns momentos. E nisso Burlesque é um prato cheio.


Título original: Burlesque

Gênero: Musical, Romance
Direção: Steve Antin
Elenco: Christina Aguilera, Cher, Stanley Tucci, Kristen Bell, Eric Dane, Cam Gigandet, Dianna Agron
Locais de exibição (Salvador): Multiplex Iguatemi, Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha, Cinepólis Salvador Norte.

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Estréias da semana:

Para quem quiser conferir outros filmes além de Burlesque (ou pra quem já viu) no cinema, as estréia da semana são:
127 Horas (6 Indicações ao Oscar);
O Besouro Verde
O Ritual
Bravura Indômita (10 indicações ao Oscar)
Nesta sexta-feira entram em cartaz: Bruna Surfistinha, Pina, A Empregada, Reino Animal, Viagem do Medo, Justin Bieber: Never Say Never 3D, Desconhecido (vi o trailer e achei bem interessante), e Incêndios. 
Além das estreias, ainda estão em cartaz Santuário e os indicados ao Oscar Cisne Negro (5 indicações), O Discurso do Rei (12 indicações) e O Vencedor (6 indicações).

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Pra ver em casa:
Pra quem quiser pegar um DVD e conferir em casa, sozinho ou com os amigos, algumas dicas do que vi por esses dias:
1)      Lembranças de um Verão (Hearts in Atlantis, drama, 2001): com Anthony Hopkins e o menino Anton Yelchin no elenco, o filme é a lembrança de Robert, um homem que, após a morte de seu amigo de infância, relembra o verão de seus 11 anos, quando na ocasião fizera uma inusitada amizade com um vizinho bem peculiar;
2)      Modiliani – Paixão pela Vida (Modigliani, cinebiografia, 2004): cinebiografia do pintor italiano Amadeo Modigliani. Ambientado na época da efervescência cultural em Paris, retrata a vida e os exageros de um talentoso artista cuja paixão era, antes de tudo, a vida;
3)      Marnie, confissões de uma ladra (Marnie, 1964): de Alfred Hitchcock, Marnie é mais um drama psicológico do que um suspense propriamente dito, gênero pelo qual o diretor é considerado um Mestre. Na trama, uma jovem, porém atormentada mulher, que é uma cleptomaníaca, pela qual se apaixona o rico Mark Rutland (Sean Connery no auge do seu charme), que fará de tudo para ajudá-la.  

Um comentário:

  1. Posso ate ser absolutamente repetitivo, mas se toda cantora estreasse num musical como fez a Björk...

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