domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carta da Editora | Escapismo

Você com certeza já quis fugir para alguma cidadezinha francesa, viver no campo, se apropriar do mundo de alguma saga literária ou construir um mundo inteiro só para si, né? Pode assumir, vai, não é só você quem já o fez, não – os românticos que o digam.

Essa vontade de viver uma vida outra, sem compromissos ou obrigações chatas ou com uma estética própria, que se traduz em horas de imaginação fértil e devaneios, é conhecida como escapismo. Se, por um lado, a prática extensa do escapismo pode assustar – todos tendemos a julgar muito fortemente comportamentos extremos – por outro, sua presença é mais comum do que se imagina. Se você é usuário de sites como Tumblr, We Heart it e Flickr, deve ter notado, de uns tempos para cá, um uso generalizado de imagens com cores lavadas, motivos delicados e sempre com um quê de romantismo. Isto também é uma forma de escapismo, principalmente se você passa horas e mais horas online vendo fotos e desejando vivenciar aquelas experiências.


Se de alguma forma você persegue esses ideais em um plano que não o da fruição pura e simples, isso vai influenciar outros fatores da sua vida – que fã de Harry Potter nunca sonhou em conhecer a Inglaterra, ou que fã de Audrey Hepburn nunca desejou tomar café da manhã em frente à Tiffanny’s? Claro que nem todos os caminhos que guiariam a esse mundo que crê-se ideal são exatamente possíveis. Assim, o caminho mais comum é que esse desejo de fuga se expresse em coisas menores, como o vestuário ou o comportamento (Aliás, a individualização da vestimenta já foi vista, em outras épocas, como escapismo da sociedade burguesa, como explica esse artigo aqui).

Delícias popularizadas a partir de um lifestyle que se tornou exponencial

Se você ainda duvida da força deste escapismo, podemos pegar de volta o exemplo das fotos românticas e desbotadas por aí pela internet, de preferência algumas mais antigas. Em quantas delas você vê itens que se popularizaram? Os cupcakes – bolinhos que existem desde quando me entendo por gente – saíram das fotografias e ficaram tão populares que ganharam ares de negócios de verdade. Pelo mesmo caminho vão os macarrons, docinhos de que tenho notícia desde 2004, pelo menos, e que andam sendo aclamados por aí como os novos cupcakes. Isso sem falar nas cinturas altas, nas peças rendadas, nos laços e das sapatilhas... E nos próprios tons pastéis. Um resgate de uma feminilidade vintage que ganha mais e mais força - só olhar para a Zooey Deschanel em 500 dias com ela.


A WGSN – bureau internacional de pesquisa de tendências em moda – fez uma palestra sobre macrotendências para 2012, que resultou em alguns vídeos sobre o assunto. Dois deles, juntos, me fizeram lembrar de uma discussão que alguns amigos tiveram, há algum tempo, sobre o assunto, e que rendeu até texto.





O Primal Futurism, dentre outros tópicos interessantes, traz justamente a criação destes Novos Mundos criados pelas pessoas. Unido ao Cinematic – muito embora a prática do escapismo não esteja ligada necessariamente a nenhum produto cultural, é válido reforçar – e à discussão, o agendamento do tema me fez pensar com olhos mais cuidadosos sobre o escapismo e ver que, de fato, e em certa medida, isto tem sim influenciado as produções da indústria da moda. Isso se explicaria pelo uso das roupas como uma forma de expressão da individualidade, mas isso já é tema para outra postagem.

O que fica de interessante de verdade – pelo menos para mim – é saber para onde se escapa. Pode dar um bom exercício de auto-conhecimento e, melhor ainda, potencializar e direcionar o que você consome, no sentido mais amplo da palavra. Então é isso: Você, para onde escapa?

2 comentários:

  1. Amei seu texto!
    Também compartilho da sua opinião sobre esse tendência das pessoas a revisitarem o que é vintage, a vontade de viver em outras épocas. Esse 'escapismo' também tem toques de um surrealismo 'açucarado', provavelmente uma forma de driblar as angústias da vida moderna, blabla.
    É claro que isso afetou a criação de moda. É só dar uma olhada breve à sua volta pra perceber essa revitalização do passado. Eu não gosto desse tipo de saudosismo, mas há tantos momentos na história do ser humano e da cultura que eu gostaria de presenciar...

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  2. eu amei esse post.
    eu escapo muito, hehe. normalmento eu uso filmes e livros para escapar por alguns instantes. sempre que vejo uma historia ou leio me sinto parte dela como eu estivesse vivendo ela; eu me apaixono, viajo etc. eu sou muito sonhadora, so nao sei se isso é muito bom ou nao.

    amei seu blog.

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