domingo, 5 de setembro de 2010

Adeus, vara-pau!

Meninas, fiquem atentas, a ditadura da magreza está indo por água a baixo. Não é preciso dizer a ninguém o prejuízo que esse padrão de beleza utópico e doentio tem causado a muitas pessoas - discriminação, exclusão, distúrbios alimentares e, em casos extremos, morte. Dietas absurdas em prol de quê? De um cabelo ruim, de uma pele desidratada, de unhas quebradiças, ossos saltados e de joelhos mais grossos que as coxas. Uma pena que não dê pra afinar os joelhos, não? Ou será que você já encontrou um açougueiro que consiga realizar essa proeza? Desculpa a ignorância, mas ninguém havia me avisado que a Noiva Cadáver era tendência de corpo e beleza agora.

É estranho entrar numa loja e comprar roupa-íntima de criança porque não há outra que lhe sirva e, depois, se gabar disso, não? Pode parecer ridículo, mas acontece. A boa notícia é que os profissionais da moda perceberam que há algo de errado com uma menina de 18 anos, 1.80 m, e com menos de 50 kg. Há algo de errado em se vender roupas femininas apenas até o número 42. E há algo de errado em algumas modelos que não cabem num modelo 34. Estamos nos cansando da falsidade desses corpos esqueléticos e irreais. Mulheres tem que ser mulheres e não cabos de vassoura com braços e pernas. É o que percebeu a ministra britânica da igualdade, Lynne Featherstone, ao dizer que Christina Hendricks, a Joan do seriado ‘Mad Men’, é ‘um fabuloso modelo a ser seguido’. E ponhamos fabuloso nisso. Alguém aí acredita que a gata usa 48? Pois é, ela diz que agora ela ‘se sente mais mulher’. Outra que vem arrasando é a Crystal Renn. Não se poderia esperar menos da modelo plus-size com os melhores cachês da atualidade. Em seu livro, ‘Hungry’, ela conta que, depois de ter ido aos limites com dietas insanas e pensamentos absurdos que incluíam contar quantas calorias ela perderia fazendo uma caminhada do seu quarto até a lata de lixo e ter desistido porque seu corpo não aguentava mais aquela pressão, ela viu futuro na carreira de modelo plus-size. Quando ela percebeu que poderia, finalmente, comer, teve um dos momentos mais felizes depois de mais de um ano de agonia tentando se tornar uma Noiva Cadáver. Ela já estampou a capa de uma ‘Elle’, já desfilou para Jean-Paul Gaultier, já fez campanha pra Chanel, e muitas outras conquistas ela teve e continua tendo.

Christina Hendricks e Crystal Renn: Lindas, absolutas,

plus-size e bem pagas.

Falando em ‘Mad Men’, ambientado no início dos anos 60 com resquícios dos anos 50, eu só posso lembrar da cinquentíssima coleção que o Marc Jacobs fez para o Inverno 2010 da Louis Vuitton. Com a cintura mais alta e as saias amplas ao sabor do New Look de Dior, a Louis Vuitton reviveu a beleza da mulher à moda antiga, quando as curvas eram valorizadas e ser saudável estava no topo da lista.

Hoje, no nosso querido mundo fashion, alguns fatos podem deixar a gente perturbado e nos faz perguntar até onde vai esse exagero do culto à magreza. Por exemplo, quem não lembra da super-model russa Karolina Kurkova no SPFW desfilando pra Cia. Marítima e da crítica caindo nela por causa das suas ‘gordurinhas’? A atual top n.1 do mundo, a belga Lara Stone também é julgada por ter algo além de pele e osso. Só porque ela tem quadril, porque ela tem peitos e é sensual - só porque ela é mulher. Alguns dizem até que ela está à beira do plus-size. Mas onde que isso é plus-size, hein?

Karolina Kurkova e Lara Stone: diz aí, bagunceira,

você queria ser ‘gorda’ assim.

E tudo, é claro, para ser magro, até se transformar numa aberração. Para ser o belo tipo ultra-romântico, esquálida, pálida e lânguida, irmã-gêmea de Thanatos, a Morte, vale tudo. Até generosas doses de Photoshop, e nada de bom senso. Quem não lembra do episódio da capa da W Magazine protagonizado pela Demi Moore e sua cintura desumana?

A questão que eu levanto não está relacionada ao fato de que ser magra é ruim. Desse modo, eu estaria sendo fascista e excluindo a beleza e a condição própria do corpo de uma parte da população mundial. O que eu critico é o esforço e a insanidade em torno do ‘corpo perfeito’ e os danos que isso traz à saúde de cada indivíduo que se põe nessa situação. Será que se privar de saborear a sua comida preferida e se sentir bem pelo prazer que este ato proporciona trará algum benefício para você? Ou será que aceitar o seu corpo, conhecer os seus limites e viver a saúde do corpo e do espírito não trariam a verdadeira felicidade?

Padrões de beleza sempre existiram e sempre existirão - não temos como fugir muito disso. A moda é cíclica e, se agora ser über-skinny é o que há, daqui a 20 anos pode não ser mais. Nossos netos podem olhar para as fotografias e referências da nossa época e pensarem em como esses corpos magros são horríveis e decadentes. As grandes grifes internacionais já estão aumentando a numeração das suas roupas e lançando linhas de modelos plus-size. Pode ser que essa ditadura da magreza seja só coisa dos profissionais de moda que insistem nesse padrão de beleza irreal, e que nós mesmos já nem liguemos pra isso. Quem sabe? Só o tempo mostrará o teu destino, mulher noiva-cadáver.




Imagens: Reprodução

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