terça-feira, 26 de abril de 2011

Coluna do Teo | Sonhe, Fuja, Escape!

Numa conversa despretensiosa no ônibus, fazendo o trajeto faculdade-casa, uma colega me conta sobre uma atividade da disciplina de "Produtos conceituais" que super inspirou a turma dela inteira. O professor descreveu um cenário no futuro em que a maioria das especimes vegetais estariam em extinção, os seres humanos viveriam em ''cidades-bolha' com os rostos envoltos em máscaras para se proteger da poluição, morando em "cápsulas", o contato social -através de encontros, festas, etc- seria uma prática rara. Em suma, São Paulo em vinte anos (risos). Então, ele solicitou que os alunos, reunidos em pequenos grupos, "criassem" um produto voltado para a realidade dessas pessoas. Ela me disse que teve gente pensando em filtradores de impurezas do ar de pequenos/médios ambientes, mochilas esterelizadoras que funcionavam enquanto carregadas, emuladores de realidades virtuais e todas essas parafernálias hiper-tecnologicas.


Quando ela me falou, eu disse "legal", mas parei uns segundos pra refletir no que eu criaria e acabei concluindo que tecnologia é o que vai menos faltar pra suprir as necessidades básicas de sobrevivência dos seres humanos. E eu não estou interessado em sobreviver, estou interessado na vida em si, no prazer que se pode ter na existência, no pensamento, na dança, no movimento, na poesia, principalmente. Daí eu lembro do que disse o Yohji Yamamoto, o passado é tudo que temos. E isso é mais que verdade. As previsões que temos para o futuro são, na esmagadora maioria das vezes, extremamente desoladoras, então pra quê olhar pra o futuro -que é triste e abominável, envolto em diversas catastrofes politicas, econômicas e ambientais - e para este presente pré-apocaliptico se nós temos, firmadamente, o passado para poder sonhar?!

O passado é o terreno do escapismo. Já que não podemos nem precisamos reviver completamente todas as circunstâncias de uma época, o "doce", o "maravilhoso" pode ser as únicas coisas de que queremos nos recordar, extrair e explorar de tempos passados. E, seguindo essa lógica, pensei que as pessoas deste futuro terrivel só gostariam de viver nessa realidade que está além da sua, que é puramente boa e amável, elas gostariam de viver no
sonho. Então disse:

- Eu criaria um vestido
couture com uma calda gigantesca de plumas estruturada absolutamente fantasioso, então as pessoas poderiam se sentir acima de toda aquela desolação, poderiam sonhar em estar em um lugar diferente, numa época diferente e com outras necessidades. Um produto conceitual, pra mim, tem o poder de "brincar" com as verdades e as ideias de uma pessoa sobre a sua realidade, então este vestido seria algo completamente fora de contexto, envolto numa aura de contemplação de um surrealismo que sucitaria, imediatamente, ao desejo, à fuga do seu abismo.





















 







Pra ilustrar, uma foto da atriz Mia Wasikovska (Alice no País das Maravilhas, Tim Burton) vestindo uma criação do mestre da fuga e do escapismo na moda, Alexander McQueen. Pra mim, ele, sim, costurou extravagâncias dignas de sonho.

Avant!

Nenhum comentário:

Postar um comentário