segunda-feira, 7 de março de 2011

Coluna do Teo | O Fast-Fashion e a democratização da moda

Campanha da parceria entre a grife de de luxo Lanvin e a rede de fast-fashion sueca H&M de 2010

O sucesso de um fenômeno recente na moda, as colaborações de designers famosos (e caros) com redes de fast fashion que distribuíam as coleções a preços módicos – em comparação aos preços originais dessas grifes - , veio reforçar a idéia de uma certa “democratização da moda”. A estratificação da moda foi se dissolvendo e, antes, o que pertencia aos endinheirados foi sendo permitido aos não-tão-endinheirados-assim.

Depois de sucessos absolutos como a colaboração entre grifes rainhas do luxo, como a Lanvin e a Valentino, e redes de fast-fashion, como H&M e Topshop, que fizeram os olhos bem desenhados com delineadores da M.A.C. de várias fashionistas brilharem diante da possibilidade de obter uma peça designed by a custo de banana em fim de feira, algo na moda deveria estar mudando.

Pois é, deveria. Produtos originais de designers tais carérrimos lançados por lojas populares baratérrimas ainda são sinal de aristocratização da moda. Por exemplo, a bola da vez é o boato antigo confirmadíssimo da união entre a estilista britânica Stella McCartney e C&A. Para pagar uma estilista do porte de Stella, a C&A ainda tem que vender as peças a preços altos em relação ao consumidor comum. Um trench-coat Stella McCartney para C&A custará em torno de R$500, um preço completamente fora de contexto, se a gente for ver os casacos que custam, no máximo, R$150 da C&A. Um consumidor leigo, que não tem informação de moda, vai se assustar com o preço do bendito do trench-coat, nem imaginando a metade da ladainha toda que envolve aquela peça.


Peças da coleção da Stella McCartney para C&A

Além disso, e aqui vem meu mote principal para esta discussão, as peças criadas pela Stella McCartney para a C&A serão uma mera “adaptação” da grife Stella McCartney.  Na verdade, você não está comprando Stella McCartney (e muita gente não pode comprar seus vestidinhos de, no mínimo, R$2.000 em multimarcas brasileiras, e nem viajar para Londres pra abater centenas de reais em impostos de importação), você está comprando Stella McCartney para C&A, a linha solo da estilista é muito diferente das peças penduradas em araras pertinho da sua casa – o preço é (muito) diferente, o tecido é diferente, a loja é diferente, em suma, a qualidade é muito superior. Errada a menina que, comprando insandecidamente na Riachuelo, defendeu seu consumismo da seguinte forma: “Você já viu Osklen a quinhentos reais?”. Então não vá pensando que você vai comprar Stella McCartney, você vai comprar C&A.

Backstage do desfile da coleção de Primavera/Verão 2011 Stella McCartney. A estilista é a de preto

Posso até estar sendo radical, porque até reconheço que o papel do designer é criar objetos baseados no seu mercado consumidor, mas eu já me enchi da baboseira das lojas de fast-fashion fazerem as pessoas pensarem que estão comprando o seu colaborador. A verdade é que a moda ainda é elitista. Até onde consigo enxergar, só posso vislumbrar a existência de uma moda feita para uma elite que pode pagar suas centenas de dólares por um vestido de grife e comparecer ao baile do MET com convite VIP, e a moda do povão que só pode pagar chorando por um vestido de setenta reais pra ir ao baile de formatura de algum parente ou amigo. Você ainda precisa ter um pouco de sangue azul e muito dinheiro na Birkin bag, ou uns poucos dólares, muita inteligência e criatividade  de sobra pra fazer parte da redação da Vogue.

ps.: Dia 23 de Março, a infame coleção da Stella McCartney estará nos manequins e cabides da C&A. Um dia depois do meu aniversário, eu não posso perder a oportunidade de fazer o teste e perguntar a um vendedora o porquê das peças tão caras. “Quem é essa Stella Macartinêi, minha filha?”


Imagens: Reprodução

Nenhum comentário:

Postar um comentário